O século XXI trouxe uma série de mudanças que implicaram diretamente na forma em que o regionalismo era compreendido. Questões de proporções globais como a crise econômica, a ascensão de países emergentes (como os BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e posteriormente a África do Sul), a guerra ao terror, o avivamento de conflitos em regiões mais frágeis e consequentemente a intensificação das intervenções por parte das grandes potências fez com que novas demandas surgissem e que os atores, através de seus respectivos blocos de cooperação, buscassem respostas distintas. O regionalismo comparado, em meio a este cenário, emerge a partir da percepção de que o modelo de supranacionalização desenvolvido no Continente Europeu, através da União Europeia, não era um parâmetro adequado de atuação e de meta primordial aos demais regionalismos. É uma abordagem pluralista que equipara as diversas formas de comparação respeitando suas particularidades e que, com isso, possibilita o debate comparativo multidimensional entre as várias escalas e tipos de regionalismos, sem hierarquizá-los. De todo modo, a abordagem comparada tem como objetivo a compreensão das novas conjunturas que se desenham no sistema internacional, pois, oferece às Relações Internacionais enquanto campo epistemológico, uma perspectiva abrangente, pós-hegemônica e descolonizada que, assim, tem a competência de analisar os Estados como atores singulares que interagem em um mundo interdependente e plural.
Para entendermos o que significa Regionalismo Comparado é necessário traçarmos um panorama histórico dos estudos acerca do conceito de regionalismo, passando por suas diferentes vertentes e buscando entender que esse é um conceito que pode ter diferentes significados para diferentes tempos históricos e populações. De forma resumida, podemos dizer que regionalismo diz respeito a processos culturais, econômicos, políticos ou sociais que ocorrem em determinada região, seja através, dentro ou para ela, podendo ser considerado como uma configuração de poder que trabalha na construção de limites, identidades e fronteiras.
Sendo assim, começaremos pelo regionalismo antigo (1945-1990), partindo para o regionalismo novo (1990-2000) até chegar ao atual regionalismo comparado. O regionalismo antigo, também chamado de regionalismo fechado, diz respeito a teoria clássica de integração regional, sendo a principal questão em voga a manutenção da paz entre os Estados e a reconstrução econômica do cenário pós-segunda guerra. É importante notar que no antigo regionalismo o conceito de região não é problematizado e nem considerado relevante, pois a própria materialização das organizações regionais eram consideradas como a materialização das regiões propriamente ditas. Portanto, podemos dizer que este foi um regionalismo que emergiu no cenário europeu do pós-segunda guerra mundial e que se espalhou para o resto do mundo, perdendo força em ambos os cenários na década de 1970. Como exemplos podemos citar a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), a Associação Latino-Americana do Livre Comércio (ALALC) e a Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).
Partindo para o regionalismo novo, também chamado de regionalismo aberto, as principais questões a serem resolvidas são provenientes dos efeitos da globalização e as novas conformações entre pessoas, Estados e empresas causadas pelas novas tecnologias. Nesse cenário o âmbito transnacional se mostra mais importante, fazendo com que as relações societais estejam cada vez menos nas mãos exclusivamente do Estado.
O recuo de uma perspectiva eurocentrista deixa de lado a integração como um ideal e passa a focar na cooperação como elemento fundamental, abrindo caminho para uma abordagem eclética que se fundamenta na expansão, na diversidade e no aprimoramento do regionalismo. Nesse sentido, para além das mudanças previamente levantadas pelo novo regionalismo, que enfatizava o envolvimento de atores não estatais na cooperação regional, o regionalismo comparado leva em consideração o objeto em particular a partir de sua complexidade e de seus distintos níveis de interação. Ou seja, atenta-se para a distinção entre as condições das diferentes regiões do mundo, pontua seus desafios e necessidades, e procura demonstrar que os resultados obtidos a partir das diversas formas de cooperação devem ser pensados, inclusive, de modo singular.
É importante pontuar que a conjuntura contemporânea, decorrente da última década, tem mostrado a emergência de novas formas de regionalismo, sobretudo quando olhamos para a América Latina, tais como o regionalismo pós-hegemônico e o regionalismo líquido. O conservadorismo, o protecionismo e a fragilidade do comprometimento de grande parte dos Estados com seus respectivos blocos de cooperação têm ostentado a emergência de um novo tipo de regionalismo, mais fluido e menos institucionalizado.

Escrito por

Observatório de Regionalismo

O ODR (Observatório de Regionalismo) realiza entrevistas com autoridades em suas áreas de conhecimento e/ou atuação, lançando mão de diversas mídias à divulgação do material elaborado.