O especialista alemão vem ao Brasil debater sobre o regionalismo na América Latina e Europa

Em breve entrevista concedida ao Observatório do Regionalismo (ODR), o professor Dr. Detlef Nolte, do GIGA Institute of Latin American Studies, antecipou mais detalhes sobre os debates que pretende trazer ao Brasil na próxima semana. O acadêmico alemão ministrará duas conferências sobre o tema do regionalismo europeu e latino-americano nos dias 13 e 14/08 na cidade de São Paulo. A ocasião marcará ainda o início das atividades do segundo semestre da Cátedra Martius de Estudos Alemães e Europeus (DAAD).
No dia 13/08, segunda-feira, às 14h, a Cátedra Martius, o Observatório de Regionalismo e o Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP – UNICAMP – PUC-SP) apresentam o evento “Lo Bueno, Lo Malo y Lo Feo: pasado, presente y futuro del regionalismo latinoamericano”, ministrado pelo prof. Nolte. O evento será em espanhol e acontecerá no Auditório do CEDEM, Praça da Sé, 108 – Sé, São Paulo, com vagas limitadas. As inscrições devem ser feitas através do e-mail: relinter@unesp.br
No dia 14 de agosto de 2018, terça-feira, às 10h30, a Cátedra Martius e o Programa de Pós-Graduação do Departamento de Ciência Política da USP (DCP-USP) apresentam a palestra “The EU crisis and the comparative study of Latin American regionalism”, também ministrada pelo prof. Nolte. O evento será em inglês e acontecerá na Sala da Congregação do Instituto de Relações Internacionais (IRI-USP), na Av. Prof. Lucio Martins Rodrigues, s/nº – travessas 4 e 5 – Cidade Universitária, SP. Aberto ao público e imprensa, sem necessidade de inscrição prévia.

“A governança regional é importante para a paz e o bem-estar”

Detlef Nolte é considerado um dos pesquisadores mais importantes de sua área atualmente. A sua trajetória profissional contempla uma diversa produção intelectual entre centenas de artigos científicos e livros, além de participação ativa em conferências pela Europa e América Latina. Um dos conceitos de sua autoria, o “overlapping regionalism” (ou “regionalismo sobreposto”, em português), tem se demonstrado de grande valia no entendimento dos efeitos gerados pela proliferação de processos de integração e cooperação regionais na América Latina, sendo objeto de interesse crescente por pesquisadores e analistas da área.
Diante do quadro crítico que UNASUL tem passado, Nolte defende que é preciso refletir sobre as estratégias adequadas para reverter a crise e revitalizar o organismo. Questionado sobre as expectativas de mudança desse cenário, devido às eleições presidenciais do Brasil neste ano, o pesquisador admite não identificar um grande interesse por parte dos presidenciáveis no tema. “Atualmente, parece haver uma fadiga geral da UNASUL na América do Sul”.


ODR: Conte-nos um pouco sobre a sua trajetória acadêmica no GIGA Institute for Latin American Studies e como, ou por que, a América Latina se tornou um tema importante para sua pesquisa?
Detlef Nolte: Eu fui diretor do GIGA Institute for Latin American Studies em Hamburgo nos últimos 12 anos; e sou professor de ciência política na Universidade de Hamburgo. Hamburgo, como uma cidade portuária, teve sempre um interesse especial no comércio com a América Latina. Durante a minha carreira profissional fui também por seis anos o presidente da German Latin American Studies Association (ADLAF) e vice-presidente da European Latin American Studies Association (CEISAL). Este ano estou como pesquisador convidado pela FLACSO Argentina e pelo Instituto de Ciência Política da Universidade Católica do Chile, em Santiago. Atualmente, eu também sou membro do comitê de coordenação do GRIDALE (Grupo de Reflexión sobre Integración y Desarrollo en América Latina y Europa), que realizou seu primeiro congresso em Bogotá, em junho de 2018.
ODR: Considerando o atual cenário na América Latina e na Europa, qual é a importância de se debater sobre o regionalismo nos dias de hoje?
Detlef Nolte: Há uma crise do regionalismo na Europa e na América Latina. A governança regional é importante para a paz e o bem-estar. Portanto, precisamos de um debate sobre as causas da atual crise e sobre as estratégias para dar um novo impulso aos projetos regionais.
ODR: A UNASUL tem passado pela maior crise de sua existência. Em que medida o senhor acredita que as próximas eleições presidenciais no Brasil são determinantes para revitalizar a UNASUL?
Detlef Nolte: Tanto quanto posso ver, a UNASUL não tem alta prioridade na agenda dos candidatos à presidência. Atualmente, parece haver uma fadiga geral da UNASUL na América do Sul.
ODR: A sua conferência em São Paulo é intitulada “Lo Bueno, Lo Malo e Lo Feo: pasado, presente e futuro do regionalismo latinoamericano“, que aspectos são considerados como o bom, o mal e o feio no regionalismo latino-americano?
Detlef Nolte: O “bom” ou o “bueno” são os fatores que têm dado continuidade ao regionalismo latino-americano e seus avanços. O “ruim” ou “malo” são as limitações ou linhas de falha do regionalismo latino-americano; e o “feio” ou “feo” são os atuais desafios e conflitos.
ODR: Que discussão o senhor pretende abordar durante o evento em São Paulo na próxima semana?
Detlef Nolte: Algumas reflexões sobre os passos e estratégias necessários para superar a crise atual e revitalizar o regionalismo latino-americano.


* Entrevista realizada via e-mail por Lucas Eduardo em 08/08/2018, na língua inglesa, e transcrita para a língua portuguesa.

 
 

Escrito por

Lucas Eduardo Silveira de Souza

Bacharel em Relações Internacionais (Unesp) e Mestre em Relações Internacionais (UnB). Área de interesse: América do Sul, regionalismo sul-americano, Unasul, integração regional e política externa brasileira.