André Araujo é mestrando em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação “San Tiago Dantas” (UNESP/UNICAMP/PUC-SP), bacharel em Relações Internacionais pela PUC-SP e bacharelando em História pela USP. É pesquisador do Observatório de Regionalismo, da Rede de Pesquisa em Política Externa e Regionalismo e do Grupo de Estudos Interdisciplinares sobre Cultura e Desenvolvimento. Realizou intercâmbio de graduação na Universidad del Salvador (Argentina), em 2013. Foi bolsista do PIBIC-CEPE com a pesquisa de Iniciação Científica, premiada como melhor trabalho, “A influência dos Estados Unidos na disputa regional sul-americana no período entre 1969 e 1974”. Seus estudos enfatizam a Política Externa Brasileira e o regionalismo da América Latina nos séculos XX e XXI, com pesquisa atual sobre Congresso Nacional e política externa em relação ao Mercosul.(Mais info)

*Texto elaborado a partir de entrevistas concedidas pelo pesquisador André Araujo ao PodMundo&Política do PodcastUnesp nos dias 7 e 8 nov. 2016.


ENTREVISTA

André Araujo comenta detalhes do atual cenário politico da Venezuela, após abertura do processo de impeachment contra o Presidente Nicolás Maduro

Depois da abertura do processo de impeachment contra o Presidente Maduro, no final de outubro, o governo venezuelano reagiu com algumas medidas no intuito de conquistar apoio popular, como o aumento de 40% do salário mínimo e a divulgação de algumas ações vinculadas à viagem presidencial ao Oriente Médio para renegociar os preços internacionais do petróleo – vale lembrar, afinal, a Venezuela depende muito da exportação dessa commodity, sendo que sua economia gira em torno dos preços de exportação do produto.

Em paralelo, o Vaticano e a Unasul propuseram uma mediação, um diálogo entre governo e oposição iniciado no dia 30 de outubro, com membros governistas e dos principais partidos opositores, como a Mesa da Unidade Democrática, o Novo Tempo e a Ação Democrática. Com isso, na semana seguinte, já no começo de novembro, a Assembleia Nacional, que tinha aberto o processo de Responsabilidade Política contra o presidente, decidiu cancelar o dia em que Maduro prestaria depoimento na Assembleia e, também, cancelou uma marcha a ser conduzida até o Palácio Presidencial em Miraflores, sinalizando a busca de um entendimento pacífico entre os dois lados.

Araujo comenta as próximas etapas da negociação entre Maduro e a oposição venezuelana

A reunião entre as partes de 11 de novembro prometia um cenário ainda complexo, pois nem todos os partidos de oposição negociam e as duas principais pautas oposicionistas são a libertação de presos políticos recentes, dos eventos entre 2014 e 2015, e a reativação da coleta de assinaturas do referendo revogatório, suspenso pelo Conselho Eleitoral devido ao grande número de fraudes nas assinaturas coletadas; tanto a Assembleia Nacional quanto a oposição interpretam que sua suspensão é uma tentativa de Golpe de Estado pelo governo contra a Constituição. Além disso, a maior parte dos setores oposicionistas e alguns atores internacionais, como os Estados Unidos e a OEA, também demandam o referendo revogatório, o qual constitui um instrumento previsto na Constituição venezuelana de 1999 para submeter o mandato presidencial a novas eleições após metade de seu exercício e, portanto, poderia encurtar o governo de Maduro.

O pesquisador comenta as possíveis implicações do cenário venezuelano na América Latina e a relação brasileira com o país

Uma das principais relações ocorre no âmbito das organizações regionais, como o Mercosul, o qual discute a possível suspensão da Venezuela do bloco pelo seu mecanismo da Cláusula Democrática (1). Logo, caso os membros do Mercosul concordem que há um golpe em curso na Venezuela, ou uma ruptura da ordem democrática, ou até mesmo em função de outras questões técnicas do bloco, o país poderá ser suspenso. Por fim, o Brasil, juntamente com os governos da Argentina e do Paraguai, organiza em âmbito do Mercosul uma resposta à problemática venezuelana e isso poderia dificultar não só as relações diplomáticas e comerciais existentes entre os dois países, mas também sensibilizar a posição venezuelana frente ao restante do bloco.

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(1) O Protocolo de Montevidéu sobre Compromisso Democrático no Mercosul, de 2012, sustenta medidas repreensivas contra a “ruptura ou ameaça de ruptura da ordem democrática, de uma violação da ordem constitucional ou de qualquer situação que ponha em risco o legítimo exercício do poder e a vigência dos valores e princípios democráticos.” (MERCOSUL, 2011).


disponível em:

 http://podcast.unesp.br/

Parte I


Parte II


 

Escrito por

André Leite Araujo

Pós-Doutorando na UNESP, doutor em Ciências Políticas e Sociais pela Universidade de Bolonha, mestre em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP/UNICAMP/PUC-SP) e bacharel em Relações Internacionais pela PUC-SP. É pesquisador do Observatório de Regionalismo, da Rede de Pesquisa em Política Externa e Regionalismo e do Núcleo de Estudos e Análises Internacionais. Seus estudos enfatizam a Política Externa Brasileira e o regionalismo da América Latina nos séculos XX e XXI, com ênfase nas pesquisas sobre Legislativos nacionais e Mercosul.