Imagem : <https://veja.abril.com.br/mundo/presidente-do-chile-anuncia-que-ira-a-posse-de-bolsonaro/>

Desde que Bolsonaro foi apontado como favorito para vencer as eleições, os efeitos de sua possível eleição – confirmada no último domingo – na região sul-americana já eram percebidos por importantes políticos chilenos. De apoio ao candidato à proposta de lei para penalizar os políticos beneficiados pelas fake news, o Chile tem acompanhado de perto os rumos da política brasileira.

O presidente chileno, Sebastián Piñera, logo após os resultados do primeiro turno elogiou publicamente a proposta da agenda econômica de Bolsonaro, afirmando que reduzir o déficit fiscal, promover a abertura econômica e privatizações são medidas necessárias ao Brasil, apesar de reconhecer suas falas homofóbicas e machistas1. Ao final do segundo turno, foi um dos primeiros a parabenizar Bolsonaro e na manhã seguinte ligou para o presidente recém-eleito convidando-o para visitar o Chile. No mesmo dia, o futuro ministro da Casa Civil de Bolsonaro, Onyx Lorenzoni, confirmou que o primeiro país a ser visitado será o Chile2.

Além do apoio de seu homólogo, Bolsonaro recebeu apoio de outros políticos ligados à direita chilena durante a corrida presidencial. Líderes da bancada evangélica no Chile, Eduardo Durán e Francesca Muñoz do partido Renovación Nacional (RN), enviaram uma carta de apoio à Bolsonaro pois percebem que tem suas convicções em sintonia3. O senador da Unión Democrática Independiente (UDI), Iván Moreira, quem já defendeu a ditadura de Pinochet4, declarou que os expressivos votos à Bolsonaro se deveria ao rechaço “à corrupção e à miséria promovidas pela esquerda no Brasil” – uma narrativa que foi se construindo pela direita no país.

A mais expressiva, contudo, foi a de Jose Antonio Kast, quem obteve 8% dos votos nas eleições presidenciais de 2017 quando estimavam apenas 2% das intenções de votos. Kast, quem apoiou Piñera no segundo turno das eleições chilenas, viajou ao Brasil no último dia 18 para encontrar com Bolsonaro e discutir as propostas econômicas, visões acerca do desenvolvimento nacional, a estratégia digital de campanha e, principalmente, a ideia de que havia vínculos de corrupção entre os governos de Michelle Bachelet e Dilma Rousseff5. Também acompanharam os senadores Jacqueline van Rysselberghe e José Durana da UDI6. Kast também se pronunciou no último domingo, afirmando que a vitória de Bolsonaro representava a derrota da “esquerda corrupta” e o triunfo do “sentido comum” na América Latina, onde seguirá trabalhando para que triunfe no Chile também7.

Por outro lado, Bolsonaro também recebeu críticas de figuras ligadas à esquerda chilena, como o presidente do Partido Socialista (PS), Álvaro Elizalde8, do senador Alejandro Navarro (PS), quem propôs a “Lei Bolsonaro” para punir candidatos que utilizem fake news nas eleições, e inclusive de políticos da coalizão oficialista “Chile Vamos”: Jaime Bellolio (UDI) e Francisco Undurraga (Evópoli)9

Assim como argumentado anteriormente pelo Observatório de Regionalismo10, as eleições sul-americanas tem sido marcadas por campanhas que criam discursos e campanhas polarizadas entre o candidato de direita e o candidato de esquerda, em que este último é atrelado ao bolivarianismo e a situação atual da Venezuela – por exemplo, o discurso de que o Chile se transformaria em uma “Chilezuela” com a eleição de Alejandro Guiller, sucessor de Bachelet.

Nesse sentido, alguns políticos ligados à RN e UDI encontraram em Bolsonaro a figura e discurso semelhante desses partidos, que poderia reforçar o ideal direitista mais radical do país e alavancar uma candidatura forte para 2021. A isto, soma-se as eleições ao interior da UDI em dezembro deste ano, onde a senadora Rysselberghe concorre à presidência do partido11.

São apoios relevantes pois estão costurando cenários ao longo prazo. Não existe reeleição no Chile, logo, Piñera não poderia candidatar-se nas eleições de 2021. Ainda é muito cedo (apenas 7 meses de gestão) para apontar quem será o sucessor de Piñera nas próximas eleições, mas é possível cogitar que Kast se destaca como um nome plausível se buscar aproveitar dos ganhos do governo Piñera e da relação bilateral entre Brasil e Chile a partir do próximo ano, e o repetir o efeito Bolsonaro em terras chilenas.

_________________________________________________________________________________


1 https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/presidente-chileno-apoia-bolsonaro-e-diz-que-ninguem-conhece-haddad.shtml

2 http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2018-10/primeira-viagem-internacional-de-bolsonaro-sera-ao-chile

3 https://www.cnnchile.com/pais/diputados-rn-evangelicos-enviaran-carta-de-apoyo-a-bolsonaro_20181013/

4 https://www.emol.com/noticias/nacional/2013/09/03/617844/moreira-y-conmemoracion-de-los-40-anos-del-golpe.html

5 https://www.biobiochile.cl/noticias/nacional/chile/2018/10/18/kast-espera-que-bolsonaro-indague-vinculos-entre-rousseff-y-bachelet-si-sale-electo-presidente.shtml

6 https://www.biobiochile.cl/noticias/nacional/chile/2018/10/18/kast-espera-que-bolsonaro-indague-vinculos-entre-rousseff-y-bachelet-si-sale-electo-presidente.shtml

7 https://www.biobiochile.cl/noticias/internacional/america-latina/2018/10/28/derecha-chilena-celebra-victoria-de-bolsonaro-ha-derrotado-a-la-izquierda-corrupta.shtml

8 https://www.24horas.cl/programas/elinformante/senadores-moreira-y-elizalde-debatiran-sobre-el-avance-de-jair-bolsonaro-en-el-informante-de-tvn-2837853

9 http://www.t13.cl/noticia/nacional/216-politicos-firman-carta-bolsonaro-posible-triunfo-deberia-alarmarnos

10 https://observatorio.repri.org/artigos/eleicoes-presidenciais-chile-2017/

11 https://www.biobiochile.cl/noticias/nacional/chile/2018/10/20/reunion-de-van-rysselberghe-con-bolsonaro-tensiona-a-la-udi-de-cara-a-elecciones-internas.shtml


 

Escrito por

Julia de Souza Borba Gonçalves

Doutoranda em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UnB). Mestra em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP/UNICAMP/PUC-SP) e graduada em Relações Internacionais pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", campus de Franca. Integra, desde 2014, a Rede de Pesquisa sobre Regionalismo e Política Externa (REPRI) e, desde 2019, a Rede Colombiana de Relações Internacionais (RedIntercol).